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domingo, 11 de março de 2018

Energia: as alterações climáticas vão impor um futuro atómico?

Macron anunciou este sábado a "maior central nuclear do mundo" na Índia (para diminuir a dependência de combustíveis fósseis) e a China quer triplicar a capacidade nuclear em 20 anos, mas o futuro ainda não está escrito. O Japão chora hoje os que morreram há sete anos em Fukushima e em Taiwan há manifestações contra a energia nuclear. E onde ficam as energias renováveis?

Se há países apostados em pôr fim à energia nuclear — a Alemanha já anunciou que pretende fechar todos os reatores antes de 2022 e o Japão, que este domingo lembra as vítimas de Fukushima após o desastre de há exatamente sete anos, também quer abandoná-la —, o mundo parece não estar de acordo e são vários os locais em que estão a ser construídas novas centrais. Neste momento, e de acordo com a World Nuclear Association, há 447 reatores nucleares no mundo e e há mais 61 em construção, com uma nova central a ter sido anunciada este sábado e a China a querer triplicar a sua capacidade nuclear nos próximos 20 anos.

 

O assunto voltou ao topo da agenda este sábado, com o Presidente francês a anunciar em Nova Deli, e numa declaração conjunta com o primeiro-ministro indiano, a construção da "maior central nuclear do mundo", na Índia. A ideia é juntar os esforços da empresa francesa EDF, do setor elétrico, e da sua homóloga indiana Nuclear Power Corporation of India (NPCIL) na criação de uma central em Jaitapur, na costa oeste do país e composta por seis reatores.

 

"Quando terminar, o projeto de Jaitapur será a maior central nuclear do mundo com uma capacidade total de 9,6 GW" (gigawatts), especificaram os responsáveis políticos sobre a central a construir. O projeto foi negociado durante uma década e tem sido contestado pelos habitantes locais por razões ambientais, que ainda este sábado se manifestaram na zona escolhida para a construção. Na declaração conjunta, os responsáveis políticos referem que, "além do abastecimento de energia renovável, [a central] permitirá à Índia atingir o seu objetivo de ter 40% de energia não fóssil até 2030".

 

O FUTURO É ATÓMICO?

A Índia é o país com a segunda maior população do mundo, com 1,25 mil milhões de habitantes - é apenas ultrapassada apenas pela China - e tem um grave problema de poluição. Os últimos números apontam o país governado por Narendra Modi como o terceiro maior poluidor do planeta — é responsável por 4% das emissões de gases com efeito de estufa, causadoras das alterações climáticas —, mas o gigante asiático já se comprometeu a melhorar o seu desempenho. A dependência de combustíveis fósseis é um dos maiores problemas do país, algo que partilha com os países desenvolvidos, e a energia nuclear está a ser vista como uma solução para o problema.

 

Apesar das vantagens face aos combustíveis fósseis, a solução nuclear há muito que é contestada pelas organizações de defesa do ambiente, ao ponto de os protestos contra a energia atómica não deverem baixar nos próximos tempos. O risco de poluição de água e solos em caso de acidente nas centrais, assim como a inexistência de uma solução para os resíduos resultantes da atividade das unidades, são apontados pelos ambientalistas, que querem um mundo livre de energia nuclear. Este domingo, as ruas de Taiwan também receberam manifestações contra a energia atómica, com os manifestantes a pedirem ao governo para fechar as centrais existentes e apostarem nas energias renováveis.

 

Quanto a Portugal, o país nunca teve uma central nuclear, mas a solução já esteve em cima da mesa. Foi há 42 anos que a história mudou, com a população de Ferrel, no concelho de Peniche, a opor-se ao projeto de instalação de uma central nuclear perto da povoação. A central nunca foi construída, mas existem instalações muito próximas de Portugal. É o caso da central de Almaraz, em Cáceres, a apenas 100 quilómetros da fronteira e que vai manter-se ativa nos próximos anos.

 

APOSTA FRANCESA NAS ENERGIAS RENOVÁVEIS

Mas não é apenas do lado da energia nuclear que está a aposta e Emmanuel Macron anunciou este domingo, ainda em Nova Deli que França vai aumentar significativamente o seu financiamento para promover a energia solar nos países emergentes. Para o Presidente francês, trata-se de uma prioridade na luta contra as mudanças climáticas, numa altura em que as alterações provocadas pelo homem parecem estar a provocar fenómenos meteorológicos mais extremos.

 

França compromete-se assim com 700 milhões de euros adicionais em 2022 em empréstimos e doações, para apoiar projetos nos sessenta países membros desta organização. Este esforço eleva para mil milhões de euros o compromisso de Paris desde a criação da Aliança Solar Internacional (ASI), uma coligação resultante da cimeira de Paris, da COP21.

 

Sobre a aposta nas energias renováveis, o primeiro-ministro indiano expressou que "para incentivar o uso da energia solar, a tecnologia deve estar disponível". "Recursos financeiros, baixos custos, desenvolvimento de tecnologia de armazenamento, produção em massa. Para a inovação é necessário um ecossistema", considerou Narendra Modi. Se Ségolène Royal, antiga ministra da ecologia e enviada especial para a implementação do ASI, lembrou "o paradoxo" de os países entre os trópicos "serem os mais ensolarados do mundo ao mesmo tempo que não desfrutam da energia solar", Macron pediu respostas. O chefe de Estado francês apelou ao setor privado, para que se envolva mais ativamente na produção de energia solar, até porque "os investimentos solares estão a tornar-se mais lucrativos".

 

EXEMPLO NACIONAL

Não é apenas nos trópicos que a aposta nas renováveis acontece e os Estados-membros da União Europeia (UE) também têm apostado nas energias renováveis e Portugal é um dos exemplos na área. De acordo com um estudo da Agência Europeia do Ambiente apresentado em dezembro, sobre a utilização de energias alternativas na Europa, o país é um dos que tem maior quota de energias renováveis no consumo energético (estamos em sétimo lugar na tabela dos 28 Estados-membros da UE), numa altura em que o carvão foi o combustível mais substituído por fontes energéticas renováveis no Velho Continente.

 

Portugal está entre os quatro países europeus onde a quota de electricidade obtida de fontes renováveis representou em 2015 mais de metade do consumo total de renováveis — na UE, apenas cerca de 29% da electricidade consumida em 2015 proveio de fontes renováveis — e este não é o único estudo a destacar a prestação nacional. De acordo com o Relatório do Estado do Ambiente 2017, a taxa de produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis foi de 62% e o Eurostat destaca a incorporação de renováveis no consumo final bruto de energia (de 52,6%). Temos a terceira taxa mais alta da UE.

http://expresso.sapo.pt/sociedade/2018-03-11-Energia-as-alteracoes-climaticas-vao-impor-um-futuro-atomico-#gs.ef85NXk

 

Atenciosamente

 

Alexandre Kellermann

 

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